quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

capacidade de esquecimento.



"e eu caminhava ausente, como se caminha no interior do sono, vozes chamavam por mim numa língua estranha e os seus olhos não sei se sorriam, se ameaçavam. (...) valerá a pena? remorsos, sim, é verdade, às vezes tenho remorsos. vejo-me me sonhos como um pássaro negro, crespuscular, alimentando-se nas sombras, nos desperdícios, nos destroços, das vidas alheias. mas, afinal, o que se leva da vida, senão remorsos? remorsos do que poderia ter sido e não foi e do que se perdeu depois de ter sido. remorsos so que devia ter sido feito e não o foi a tempo ou do que foi demasiado dito e feito. remorsos destes eternos desencontros, desta sensação de que nada existe no seu tempo certo, de chegar sempre tarde ou partir cedo demais. por que será que a seguir à noite vem sempre a manhã e de manhã pesa sempre nos olhos a na alma o que se fez e desfez de noite (...) não, (...) não podes fazer nada por mim. a pessoa que eu talvez queira esta noite, nem tu nem niguém, nem ela própria, me pode oferecer: só a minha capacidade de esquecimento."

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